domingo, 28 de setembro de 2014

Protocolo

Li uma crônica da Martha Medeiros, em que ela falava sobre algumas pessoas que usam "te amo", como se fosse "câmbio, desligo", no final das ligações telefônicas. E me peguei pensando em quantas vezes eu mesma já fiz isso. Quantas vezes eu perguntei "e aí, tudo bem", sem ter a sincera intenção de ficar e ouvir a resposta sobre como andava a vida da pessoa que cruzou comigo. Ou disse um "qualquer dia, a gente almoça / janta / toma um café juntos", sabendo que se nós não marcássemos uma data ali, naquele momento, provavelmente, nunca aconteceria nenhuma reunião gastronômica.

Eu entendo que algumas frases são questão de urbanidade e que a vida social é melhor quando a gente entra no elevador e comenta que a música está agradável, quando a gente fala sobre o clima na sala de espera do dentista, ou comenta sobre outras apresentações de um artista, na fila de espera para o show. Tudo bem, é normal a gente ter umas algumas frases na manga e usa-las aqui e ali, só para não ser visto como nenhum ogro. Um "bom dia" ao chegar no trabalho não custa caro pra ninguém, concordo. Questão de protocolo.

Mas acredito que tudo muda de figura quando estamos nos relacionando com quem importa, mesmo, na nossa vida. Falar "a gente se encontra" para um amigo querido e não fazer nenhum plano de encontra-lo, me faz questionar o quão querido ele é. Porque, para o que é prioritário, a gente arruma tempo. Dizer para um filho que "qualquer coisa, a mamãe está aqui" e não estar lá (ou tentar), quando ele precisar de você, é colocar em dúvida o quanto ele pode contar com os pais que tem. Dizer "te amo" só porque não tem assunto pra conversar... é triste.

No meu trabalho, tem um balcão na entrada, onde são feitos os protocolos. É chegar, entregar os documentos, receber o carimbo e pronto. Está protocolado. Algo rápido e indolor. Inofensivo, claro, mas sem significado algum. Ninguém olhou o conteúdo do que você entregou, ninguém analisou nada, ninguém emitiu nenhuma opinião. Você entregou o que tinha que entregar e a outra pessoa fez a parte dela, e vocês podem seguir o dia com a sensação de dever cumprido.

É a mesma coisa nos relacionamentos: beijos, abraços, declarações podem ser cheios de sentido ou apenas protocolo.

Eu sou da turma que gosta de intensidade e propósito. Não quero abraçar meus filhos só porque eu sou mãe deles, mas porque estou sinceramente feliz por uma conquista ou compartilho da tristeza deles. Adoro minhas discussões com a mais nova, na porta da escola, "tchau filhota, eu te amo", "mas eu te amo mais!", "eu que amo". Ela sorri e entra, sabendo que eu a amo - de propósito. Eu marco de encontrar amigos, no próximo final de semana, e vou! Sexta à noite, sábado no almoço, sábado na janta, domingo. Ou não marco. Mas, não fico naquelas de "a gente marca alguma coisa, qualquer hora dessas", sem a menor intenção de gastar umas boas horas (e logo) na presença daquelas pessoas. Eu até aceito "selinhos" porque, enfim, vivemos em sociedade e a gente tem que saber se comportar em público, mas no particular me beije como se quisesse me beijar, como se não tivesse absolutamente nada que você quisesse mais do que aquilo.

A gente pode passar por essa vida cumprindo vários protocolos e, tudo bem, vai chegar no fim, do mesmo jeito. Mas, quem passa pela vida vivendo, ah!, esses são os grandes sortudos! Talvez demande mais trabalho e até seja exaustivo viver intensamente, mas nós acabamos de falar que o fim chega pra todos, de qualquer jeito. E eu não vejo vantagem em chegar descansada, lá na frente. Por mim, dá pra ser sincero e intencional, ao menos, com aqueles que são importantes.

sábado, 27 de setembro de 2014

#40 dias pra mudar meu mundo

27 de setembro de 2014.

Nada especial com o dia 27.
Mas hoje faltam exatamente 40 dias para os meus 40 anos!!! Então, esse é um dia extremamente especial para mim e eu queria dividi-lo com você!

40 anos. Quarenta anos! Uau!!!
Quanta coisa aconteceu nesse tempo todo! Momentos incríveis que marcaram a minha vida; pessoas especiais que serviram de inspiração; grandes e pequenas conquistas; lugares que eu conheci; sabores que eu provei; livros e filmes que mudaram meu modo de pensar! Dias, dias e mais dias que, na soma, fizeram a minha vida até aqui.

Eu só sou quem eu sou, hoje, por causa de um monte de gente que, por pouco tempo ou desde sempre, passou pela minha vida. Em algum momento destes 40 anos, mudou a minha história. Algo que alguém fez, não fez, que falou, que escreveu, que mostrou. Um comentário, uma atitude, um exemplo. Em algum (ou muitos) destes meus 14.600 dias, alguém me fez pensar diferente, me fez mudar de direção, me obrigou a encarar um problema, me apoiou com um elogio, me desafiou a ser diferente.

Eu não sei quantos desses dias (bons ou ruins, eu aceito!) eu ainda vou ter para viver. Espero que muitos! Mas, honestamente, eu não sei. Assim como ninguém sabe. E é sobre isso que eu queria falar: (não sobre mim) sobre você!

Porque você também pode ter mudado a vida de alguém como eu, intencionalmente ou não. A minha, inclusive. Cada vez que leu meus textos, deixou comentários aqui no blog (ou no Diário), me ligou pra falar de um post, me incentivou a escrever um livro (vejam só como vocês são otimistas!). Você mudou a minha vida – então você pode mudar a vida de outras pessoas, também!!! A minha, talvez, você tenha impactado “sem querer”. Mas, agora, você pode melhorar a existência de alguma outra pessoa de maneira proposital! Elogios alegram o dia de qualquer um; gentilezas afagam qualquer coração; todo mundo precisa de uma ajudinha (ou uma ajudona), hora ou outra. Então, eu te convido a viver os próximos 40 dias com o propósito de fazer o mundo melhor (pelo menos, o seu mundo)! Você não precisa mudar nada no seu cotidiano: só a sua atitude diante do que já faz ou tem que fazer. Precisa trabalhar? Trabalhe. Mas distribua mais sorrisos, agradeça mais, se der leve um bolo pra dividir com os colegas, na hora do café. Tem que estudar? Estude. Mas seja ainda mais paciente com aquele colega que não compreende a matéria, ensine, ouça com atenção, divida seus intervalos com amigos. É seu momento na vida de ser mãe / pai? Dedique-se. Brinque mais, dê gargalhadas, eduque com calma, leve seu filho pra visitar a vovó e o vovô. Ou seja: em qualquer lugar, a qualquer hora, dá pra você ser mais alegre e mais leve, e transformar o dia de alguém.

Eu sei que mudanças de atitude exigem disposição; mas eu tenho certeza absoluta de que você consegue!!! Você mudou a minha vida e eu sei que você pode mudar a vida de outros, também. Um dia de cada vez. E nós temos 40 dias, pela frente...

O que vier, depois daí, fica por sua conta, tá? Se você quiser estender a atitude até o Natal, até o Ano Novo, até você fazer 40 ou pra sempre, é escolha sua. Eu só te peço até o dia 05 de novembro. Mas, quem sabe o que pode acontecer até lá? Talvez seu bom humor e gentileza sejam contagiantes!...

Mais uma vez, muito obrigada por ter feito parte da minha vida, por ter me incentivado, me corrigido, me mostrado novas possibilidades. Desejo, do fundo do meu coração, que seus próximos 40 dias sejam incríveis!!!

Bjos e bênçãos.
Mirys

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

No caminho certo

A gente entra no carro e o mais velho ajeita as mochilas no banco de trás e se senta na frente. Ele já tem 10 anos e essa foi a condição que eu dei: quer ter benefícios de meninos grandes, tenha também as responsabilidades. O ônus e o bônus. Não dá pra ser "adulto" só quando interessa. Então, ele coloca as mochilas dele e da irmã, no carro, senta, passa o cinto de segurança e liga o rádio.

Está na hora do jornal, na sintonia que ele mais gosta.
"Mãe, o que está no CD?"
"Ana Carolina, filhote."
"Posso trocar? Estou mais rock´n roll, hoje."
"Claro."
E ele troca os CDs.

Duas quadras depois, a irmã mais nova entra no assunto: "poxa, eu tô com uma vontade de ouvir aquela música da Ana Carolina, sabe aquela, mamãe, que você coloca mais alto e dança?".

Eu sabia. Ele também. Então, automaticamente, ele abre as caixinhas dos CDs, novamente, tira o dele, coloca o da irmã e aumenta o som. Sem reclamações, sem nem mesmo alguém pedir. Só para ser agradável. Eu olhei para o lado e vi um homem de uns 20 ou 30 anos sentado ali, daqui alguns anos, ou em qualquer outra cadeira, cuidando daqueles que ele gosta, nos detalhes. E tive orgulho do cara bacana que eu acho que ele vai ser (dedos cruzados, todo mundo!!!).

A música começa e ele percebe que aumentou demais o som. Eu não me importei, nem a irmã, só começamos a cantar e dançar no carro, como sempre fazemos.
E ele me olhou com uma cara marota, como se ele fosse o pai (e não eu), sorriu e abaixou um pouquinho o volume.
"Questão de cidadania, mãe. As outras pessoas não precisam ouvir o que a gente gosta. Talvez elas gostem de músicas diferentes. Então, nessa altura, já está bom."

E eu fiquei com uma sensação de que alguém está indo pelo caminho certo.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Marca páginas

Às vezes, você pega nas mãos um livro incrível e, como você tem tempo, começa e termina a leitura no mesmo dia. Você entra na estória, se envolve, vive aquela vida paralela, está 100% ali pelo tempo que precisar só para saber qual vai ser o final (torcendo, sempre, para ser feliz). Geralmente, você não dá tanta sorte, pois tempo é um artigo em falta no mercado. Então, você quebra algumas regras, dorme mais tarde, lê em lugares não convencionais, se contenta com pedaços de fantasia aqui e ali, mas não abre mão do seu romance ou drama ou suspense ou tudo junto.

Nessas horas, é necessário ter um marca páginas. É ele que vai te lembrar onde a estória parou e onde ela deveria continuar. Digo deveria porque, se você for como eu, não deixa a estória recomeçar de onde parou: se você gosta mesmo do livro, você volta um pouquinho e relê os últimos parágrafos, só pelo prazer de sentir o frio na barriga, de novo, e voltar pra dentro do contexto. Mas, de qualquer maneira, você precisa de um marca páginas para te direcionar, para te informar "até aqui você já foi, só volte e releia se for interessante". Porque qualquer livro tem partes que passam devagar... que parecem estar lá por capricho... onde você discorda do escritor. Mas, fazer o que? O livro não é seu e a sua parte é só ler o que te apresentaram, atentamente, pois pode ser que tudo acabe se mostrando importante, no final.

Assim como nos livros, a vida, por vezes, também precisa de um marca páginas, para você saber que aquele assunto está encerrado, já foi lido, passou. Livros não podem ser "deslidos", bem como a vida não pode ser "desvivida", nas partes que não interessam. Mas, os capítulos bons sempre podem ser vividos, novamente, mesmo que seu marcador esteja lá na frente. É só voltar na leitura ou relembrar do texto. E agradecer ao escritor por ter feito aqueles parágrafos tão interessantes!

Para marcar as páginas das estórias que eu leio, eu me aproveito de qualquer coisa que esteja à mão: um clips, um papelzinho, uma foto, um envelope de chá, um post-it, um marcador oficial de alguma livraria ou um mexedor de café. Só não dobro as pontinhas das páginas porque eu já uso esse recurso para marcar as frases, os diálogos, os parágrafos que eu mais gostei. Nem sempre temos uma caneta ou lápis ao alcance para sublinhar o que se gostou, o que te definiu, o que te fez repensar seus conceitos. Mas, sempre se pode dobrar um canto da página: ninguém além de você vai saber exatamente o que mais te impactou e, se você tiver que passar o livro adiante, suas percepções e marcas não vão influenciar outros olhares. Só os mais atentos que vão perceber que teve algo de especial ali, que pode ser que eles também encontrem se lerem bem atentamente...

Na falta de algo melhor, o último marca páginas que eu usei (na verdade, estou usando) é um band-aid. Nada mais apropriado. Livros me curam. Nem que seja de mim mesma.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Filmes da minha vida

Nesses dias, virou febre lançar algum "desafio" nas redes sociais. De tirar foto sem maquiagem para postar (esse seria facílimo pra mim!) até homenagear as 5 mulheres mais interessantes da sua vida; desde jogar balde de água gelada na cabeça, pra todo mundo ver, até quem descasca frutas primeiro. Dentre coisas esdruxulas e divertidas, me mandaram um: listar os seus 15 filmes preferidos, aqueles que, de alguma forma, marcaram a sua vida.

Moleza, moleza, melzinho na chupeta. Eu começaria com... com... com... Ai, começo com qual? Está escrito na brincadeira que a ordem não importa, mas depois de ler os 15 filmes favoritos dos seus primeiros 50 amigos que responderem à brincadeira, você não vai ter mais paciência para ler as listas completas de todo mundo! Talvez leia só os cinco que estiverem nas melhores colocações. E, poxa, esses filmes mudaram o jeito que eu penso, que eu amo, que eu vivo, que eu vejo o mundo. Eles são importantes! E eu queria que vocês vissem cada um deles! Ou, pelo menos, os cinco primeiros da minha lista.

Então, travei. Não era uma tarefa fácil: fazer uma seleção para o mundo descobrir do que eu sou feita. Porque todo mundo é composto dos filmes que viu, dos livros que leu, dos amores que viveu, dos sabores que provou e de todas as referências que ainda fazem parte do seu cotidiano. Você não é o que você come, só "caloricamente" falando. Você é a soma do que te alimenta por fora e por dentro, corpo e alma. Então, essa tal lista aparentemente boba de estórias vistas na tela é muito difícil de ser feita porque ela diz muito sobre mim. Mas, eu sou dessas que gostam de se arriscar...

SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS: é bastante óbvio o motivo porque esse filme marcou minha vida - porque ele foi feito pra isso, mudar a vida das pessoas. Você muda junto com os personagens. Você se joga, você encara, você pondera, você sobe na mesa pra ver o mundo de um outro ponto de vista. Você chama o Robin Williams de "oh, captain, my captain", porque ele foi, na verdade, seu, também.

SIMPLESMENTE AMOR: eu sou incorrigivelmente otimista. E romântica. Ainda que eu tente disfarçar. E nos primeiros 3 ou 4 minutos do filme, ele já ganhou meu voto, pra sempre. Pois, enquanto o mundo inteiro só fala em tragédias, desgraças, matanças na casa ao lado, roubalheiras políticas, problemas e animosidade... eu acho que ele não está tão perdido assim. Pelo menos, o meu mundo, não! No meu mundo, as pessoas falam de amor, dão gargalhadas com amigos, abraçam seus filhos, fazem declarações, dividem uma taça de vinho e a vida. E, se você parar pra pensar, no seu mundo isso também acontece. Amor, amor, amor, nas suas mais variadas formas. É isso que faz a vida valer a pena. É isso que sobra, no final.

DIRTY DANCING: eu sei - assumir que esse é um dos filmes da minha vida, denuncia minha idade. Mas... quem se importa? É uma estória de amor como não se faz mais, do estilo "nós dois contra os preconceitos". Mas, é um "nós dois" com a dança. Ah! Que delícia aprender algo novo com alguém que te fascina. Aprender a dançar, então, o que poderia ser mais envolvente do que isso? Sou uma fã de dança assumidíssima (de dançar, de olhar, de apreciar, de aprender), sou fã de cinema fervorosa, sou fã de caras que se apaixonam de verdade e lutam pelo que eles querem, sou fã de famílias que curtem fazer coisas juntas (tipo passar feriados numa viagem juntos), sou fã da troca de ensinamentos com as pessoas que você ama. Só poderia ser super fã desse filme.

O SILÊNCIO DOS INOCENTES: o primeiro suspense que eu assisti e gostei. A construção dos personagens é super envolvente, a atuação do Anthony Hopkins me ganhou pra sempre, nunca mais deixei de ver um filme com a Judie Foster (e de ler tudo sobre ela). É daqueles filmes que, quando acaba, você se lembra de voltar a respirar, antes que seja tarde demais... porque faz uns bons 110 minutos que você está tão absorvido na trama, tão envolvido com tudo o que acontece, que você até se esquece de coisas básicas tipo respirar.

AS PONTES DE MADISON: chorei, chorei, chorei, nesse filme. Chorei de desespero junto com a Merryl Streep, quando ela constatou o vazio da vida aparentemente completa dela (e comecei a me questionar como estava a minha). Chorei de alegria quando ela descobriu que o mundo tinha uma esquina, logo ali, e que havia mais vida pra ela viver, ainda. Chorei de tristeza quando ela percebeu que as suas decisões, quaisquer que fossem, não afetariam só a vida dela, mas a de gente que ela amava (e a gente nunca quer fazer quem a gente ama sofrer). Chorei de renascimento, quando ela se redescobriu através do olhar de outro alguém. Chorei quando a filha dela, finalmente, entendeu... Um filme de uma sensibilidade impar, que nos faz questionar tudo, até aquilo que temos como certo, e nos mostra que ninguém vive dentro da pele de outro alguém para saber, realmente, o que ele sente.

O SEXTO SENTIDO: adoro esse filme porque, desde que o assisti, eu comecei a pensar fora da caixinha. Às vezes, a verdade está ali, debaixo do seu nariz, e você não vê. Como aconteceu comigo. Eu não adivinhei o final. 99% das pessoas que eu conheço, também não. E todo mundo gosta de ser surpreendido, de vez em quando, não é mesmo?

A CIDADE DOS ANJOS: a primeira vez que eu assisti esse filme (já devem ter sido umas 47... pelo menos, até quando eu parei de contar), eu estava na sala de casa, sentada no chão (adoro), descalça (adoro, parte II), em pleno horário de almoço, esperando meu sogro e o restante dos meninos terminarem de gravar umas músicas e escolherem o restaurante. O filme era em inglês, sem legendas, porque eu tinha pego o DVD na escola de inglês só pra treinar o ouvido, de novo, depois de ter passado um ano falando francês. Eu nem esperava entender tudo, nem prestar atenção demais na estória. Tinha escolhido esse porque sou fã da Meg Ryan e do Nicolas Cage. Mas eu fui tão absorvida na vida de mentira daqueles dois, que quando vi estava chorando copiosamente, sem nem piscar, grudada na televisão. Quer dizer, ver, eu não vi. Meu sogro é que viu e ficou todo preocupado: "tem alguma coisa errada! A Miriane está chorando! Ela sempre sorri!". A partir de então, eu assisto o filme já sabendo do enredo, mas confesso que toda-santa-vez que entra na parte lojinha de frutas, eu começo a falar com a Meg (porque admitir que eu falo com a televisão seria loucura demais para assumir em público. Mas eu falo): "não suba na bicicleta, não suba na bicicleta, não suba..."

TOP GUN - ASES INDOMÁVEIS: Tom Cruise. Quando você entra na adolescência e o Tom Cruise está lá, de esperando, com aquele sorriso a-b-s-u-r-d-o dele, pra te mostrar o mundo do cinema, você só tem uma opção: viver (eternamente) adolescente e (platonicamente) apaixonada por ele. Se a música começar a tocar aqui perto, agora, eu juro que paro tudo e vou procurar onde está passando o filme. Quem tá vendo isso? Eu também quero! Me chama! Tudo bem que o Tom é baixinho e tem nariz grande. Tudo bem que não é o ator mais espetacular da face da Terra (artisticamente falando, claro). Tudo bem que outros personagens e atores desse filme vão muito melhor. Tudo bem que a estorinha de amor é água-com-açúcar (e, por isso mesmo, apaixonante). Tudo bem. Mas tá tudo perdoado porque é o Tom! You´re just to good to be true...

DOCE NOVEMBRO: eu adoro novembro. É o "meu" mês. Então, qualquer filme que tivesse "novembro" no nome, eu provavelmente assistiria e provavelmente gostaria. Mas esse filme traz a Charlize Theron e o Keanu Reeves, numa das atuações mais inspiradoras que eu já vi. Quando você percebe, já está vivendo aquele amor todo com eles, já está desesperado com a doença que entra no meio do caminho da vida, já está sofrendo e sorrindo junto com a tv. Você se envolve. Inevitável.

A NOVIÇA REBELDE: "sol, um dia, um lindo dia!", "lei, rorilei, rorilei, rorilei, u-u!", "mi, é assim que eu chamo a mim!", "edelveis, edelveis...", "you are 16, going on 17". E aí, te lembrou alguma coisa? Já está cantando junto? Se esse filme impactou a vida de meio mundo, que torceu para a fraulein Maria, imagine para uma menina que tinha 6 irmãos mais novos, que sempre gostou de música e dança? "These are a few of my favorite things!"

TEMPO DE MATAR: eu sempre me achei não preconceituosa - até assistir esse filme. Se você gosta de filmes de tribunais, de dilemas existências, de eu com meus princípios contra o mundo, de estórias que te fazem pensar, esse é o filme pra você! A última cena, principalmente. Assista (que eu não vou estragar). Assista, nem que seja só pra ver o Matthew Mcconaughey fazer um papel tão intenso.

BOM DIA VIETNÃ: e aqui está ele, de novo, Robin Williams! Alguns atores são meio indiscutíveis pra mim: Tom Hanks, Julia Roberts, Al Pacino, Judie Foster, Meg Ryan, Tom Cruise, Nicolas Cage, Meryl Streep, Jack Nicholson - passou um filme com algum deles? Eu assisto. Sem nem ler muito a sinopse. Vai ser difícil eu não gostar. Eles vão ter que se esforçar bastante para perder minha admiração. E Robin Williams é um desses. Além disso, "Bom Dia Vietnã" tem uma estória no sentido de "Simplesmente Amor", para aqueles que são incorrigíveis otimistas e que sempre acham que dá pra melhorar!

NOTTING HILL: Julia, ah, Julia, como eu gosto de te ver. Eu poderia fazer uma lista de 15 filmes só seus, que me marcaram. "Noiva em Fuga" me ensinou a ter meus próprios gostos, que aprender com o outro é muito bom, mas que é importante ser fiel a você mesma, também. "O Sorriso de Mona Lisa" me intrigou na questão das decisões que as pessoas tomam na vida. Afinal, o que é importante e prioritário para você, pode não ser para outra pessoa. "Comer, Rezar e Amar" me deixou mais apaixonada ainda pela Itália, me tornou mais romanticamente incorrigível, me empolgou a querer ajudar Tutti e me fez ponderar se 'atraversiamo' não era a 'minha palavra', também. "Close", quantos questionamentos. "Uma Linda Mulher" - 'você tem 1 metro de terapia de cada lado da sua cintura' e ela cruza as pernas ao redor do pobre Richard Gere, que não tem como resistir. Ninguém teria. "Notting Hill" é mais uma estória de amores supostamente impossíveis que, no final, ah...o final. Enfim. Já me senti muitas vezes assim: como só uma garota, parada na frente de um garoto, pedindo a ele que a ame. Simples assim.

LES MISERABLES: acho que esse musical foi o filme mais inesperado que eu poderia ter na minha lista. Entrei no cinema sem saber que era musical. Nas três primeiras notas, torci muito para o marido não pedir para sair. Ele não pediu, eu encostei no ombro dele e... entrei no filme. Logo eu, que já conhecia a estória, que já tinha lido o livro em francês, visitado a casa de Victor Hugo, visto uma peça na faculdade sobre o enredo; logo eu que não tinha por onde ser surpreendida, fiquei ali, no cinema, rendida à atuação espetacular de Hugh Jackman, Russell Crowe e Anne Hathaway. Simplesmente, amei.

O DIABO VESTE PRADA: esse filme me serviu como uma luva, sem nenhum trocadilho implicito. Mas é que ele me apareceu numa época em que eu estava tão desanimada, que não tomava conta de mim, nem o mínimo. Eu tenho uma genética que me é gentil, um cabelo "fácil", e uma preguiça monstruosa de me arrumar. Então, a minha filha que falava, toda vez que íamos sair de casa: 'mamãe, você esqueceu de colocar brincos. De novo', 'mamãe, você não vai se arrumar, não? Ainda está de calça jeans'. A única coisa que me salvava era o salto (que eu não dispenso, nem pra fazer cooper, se me deixarem cometer essa insanidade). E eu achava que estava tudo bem ou suficiente bem, sendo normal. No filme, eu olhava a Anne Hathaway e pensava: 'tá vendo? Eu sou assim, sem crises. Que tanta diferença assim poderia fazer uma escova no cabelo ou um batonzinho'. Daí a personagem da Anne muda um mínimo de coisas na rotina... e faz uma diferença assustadora. Taí! Esse filme mudou o jeito que eu vejo a mim mesma.

A PIMENTINHA: se até agora vocês não comprovaram que eu sou eclética, que topo conhecer coisas diferentes, que eu tenho um tantinho de loucura... agora vai. Vão me considerar 50% maluca, a partir de amanhã. Porém, enquanto ainda é hoje, deixa eu explicar o porquê deste filme infantil e bem fraquinho estar na minha lista: ele me ajudou a decidir a minha profissão. E, sim, infelizmente, eu estou falando a verdade. Eu me formei muito cedo e não sabia direito o que queria da vida. Aliás, tenho a firme convicção que ninguém, ninguém mesmo, com 17 anos, deveria ser obrigado a decidir o que quer fazer para o resto da vida dele! Imaginem que eu tinha 16 (e me dêem o benefício da ausência de bom senso da adolescência). Eu só sabia que queria trabalhar na área de humanas; que exatas e biológicas não eram a minha praia. Mas, não sabia ao certo que profissão escolher. E, entre um vestibular e outro, eu fui pro cinema com o meu pai, só pra descontrair e assistir o que estivesse passando. "A Pimentinha" estava passando. Compramos ingressos e entramos. E eu vi uma advogada lindíssima, vestida da forma mais incrível que eu já tinha visto, de salto (a paixão acho que começou aí), na tela, pra lá e pra cá, sorrindo, sendo legal e ajudando outras pessoas. E pensei: 'é isso que eu quero fazer da minha vida!'. Não porque ela tinha uma personalidade incrível (eu poderia não ter escrito isso e deixar você pensando as melhores coisas de mim... mas, ei! Eu tinha 16!), mas porque o guarda-roupas dela era incrível. E no que que eu fui me formar? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três...

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Em uma palavra

Como quem não quer nada, entrei numa dessas brincadeiras da nossa vida tecnológica: você manda uma mensagem simplesinha para os seus amigos e pede para que eles te falem uma palavra, que defina você, na visão deles.

Eu adoro a dupla livro/filme "Comer, Rezar e Amar", onde a mocinha em crise existencial vai passar um ano sabático, à procura de si mesma, em outros países; mas gosto especialmente da cena onde um grupo de amigos tenta definir as cidades onde moram ou moraram em uma única palavra. Depois, o mesmo grupo tenta se definir em uma palavra e a personagem principal se resume em "escritora", quando alguém diz "isso é o que você faz, não o que você é". E outro complementa "talvez você seja uma mulher em busca da 'sua' palavra". Eu me lembro de pensar que, eu, também, era uma mulher em busca da minha palavra.

Anos depois, nos votos do nosso casamento, o H (que orquestrou tudo de um jeito bem pessoal e surpreendente) fez os dele de improviso. E disse que eu era "amável". Amável, no sentido literal da palavra. Não "boazinha", não "legal", mas passível de receber amor, fácil de ser amada. Meses depois, ainda tinha gente que parava pra conversar comigo e dizia "o H tinha mesmo razão no casamento de vocês - você é amável!". Nunca achei que as pessoas me vissem assim... não sou alguém de encrencar com muita coisa, nem de exigir, nem de fazer cena, nem de ter caprichos; eu me considerava "fácil" de se lidar. Mas, quem sou eu pra pensar coisas sobre mim, mesma, né? A gente sempre tem o olhar mais benevolente conosco, claro! Eu achava que, talvez, alguns me vissem como uma pessoa "fácil demais", quase boba, mas "amável" levou tudo para um patamar diferente. As pessoas se sentem queridas por mim (porque se alguém te ama em retorno é porque ela também se sente amada por você) e era assim mesmo que eu queria que elas se sentissem.

Voltando à brincadeira, recebi de uma tia que eu amo e mandei a palavra dela. Selecionei alguns poucos contatos, pessoas amigas, óbvio (que eu não sou nem louca de pedir para alguém que me deteste ficar me "definindo" por aí! Questão de sabedoria ou de sobrevivência pacífica comigo mesma), e pedi para que eles me enviassem as "minhas palavras". Só porque eu queria me conhecer melhor através do olhar dos outros. Saber onde acerto, pra reforçar, e onde erro, pra corrigir.

Recebi um tanto de definições de mim mesma como "feliz", "alegre", "sorridente", "alegria". Olha só, logo eu! Foi uma delícia ver que eu não "peso", na vida dos outros; que mesmo com tudo o que me aconteceu, mesmo com toda a carga que eu carrego comigo (goste ou não) porque faz parte da minha história, eu não economizo sorrisos e alto astral por aí! Bacana isso!

Recebi a palavra "tudo" (vocês já sabem de quem - mas ele é café com leite). De uma amiga, recebi a palavra "irmã". De uma irmã, recebi a palavra "amiga". O que poderia ser melhor? Até palavra inventada eu ganhei: fotocarinho! Afinal, se a "Presidenta" pode inventar palavras para ela mesma, por que eu não poderia ter as minhas, também? Nada mais justo, me parece.

Mas, duas respostas foram inesperadas... a do meu pai e a de uma sobrinha.
Eu não tinha mandado a brincadeira pro meu pai porque, bem, esse não é o tipo de bobagens que se manda pros pais responderem. Mas, eu tenho uma pessoa espetacular o bastante nesse papel (valeu Deus!), daqueles que se preocupam em fazer parte da sua vida nos momentos importantes, nos críticos e nos bobos, também. Por que não? No final das contas, você só faz parte da vida de uma pessoa (e desta pessoa, na verdade) se você compartilha todos os tipos de momentos: o bom e o ruim, o sério e o divertido, o preocupante e o relaxado. Se você sabe ajudar a escolher a faculdade, mas também conta estorinhas sobre animais e praças pra fazer dormir. Tudo na hora certa. E, pra minha completa surpresa, quando meu celular vibrou e eu vi que tinha mensagem do meu pai, eu li a palavra "protetora" aparecer na tela. Ser chamada de protetora por quem eu considero exemplo de cuidado e proteção? Sério?

Porém, quem deu um nó na minha garganta e me fez ter vontade de pegar o carro e viajar umas horinhas pra resolver um problema grave foi minha sobrinha. Ela já tem 18 anos e está na faculdade, com todas as coisas boas e empolgantes dessa vida nova: amigos, baladas, estudos, noites insônes, paixões, responsabilidades. Tudo que estressa e que encanta, tudo que te faz esquecer do resto do mundo. Acho que não tem fase na vida em que o mundo gira mais em torno do nosso umbigo do que na faculdade! Ah, essa doce liberdade. Nada é tão sério que não possa ser resolvido amanhã (tipo livros e provas), nada é tão não sério que não tenha que ser resolvido a-go-ra (tipo amores e programações). E, no meio desse turbilhão da vida dela, quando achei que nem ia responder à minha mensagem pedindo para me definir em uma palavra (eu só mandei porque queria saber o que uma pessoa muito mais nova pensava de mim), ela me respondeu rapidinho. E só teve uma palavra pra mim: saudade. E eu, que achei que não pudesse, descobri que, sim, eu a amo mais. Mais, e mais, e mais.

Obs: a brincadeira acabou, mas eu vou adorar descobrir como você me definiria, pois todos nós somos uma obra em constante construção, não? Então, não se faça de rogado e pode deixar a "minha palavra" nos comentários, tá? Desde já, obrigada!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Na dança, deixe-se conduzir. Na vida, também!

Não adianta, é mais forte do que eu: começa um ritminho, um tic-tic-tic-tic, um ziriguidum de samba, meus pés já começam a se mexer! Pode ser lento tipo sambinha gostoso de boteco, pode ser a maior loucura de escola de samba: começou a música, meu corpo vai. Quando percebo, já estou dançando. Em lugares onde é permitido dançar e em lugares nada comuns, também (tipo debaixo do chuveiro, no meio da sala sozinha ou sentada na cadeira do escritório). No mínimo, no mínimo, o batuque da mão já começa a ser sentido.

Uma vez, num noite há uns anos atrás, eu estava numa mesa cheia de amigos (que não dançavam), beliscando qualquer coisa e conversando animadamente, quando a banda começa a tocar um samba. A mesa do meu lado levantou-se, na mesma hora, e começou a sambar. Só mulheres! Elas dançavam, sorriam, cantavam junto; outras pessoas também começaram a entrar no clima; e eu lá, doente de vontade de embalar, também. Até que uma das garotas olhou pra mim (ela deve ter visto meus pés sambando sozinhos, debaixo da minha mesa, só pode!) e disse: vem dançar com a gente! Fui. Sem pensar 1/2 segundo. Lá estava eu, toda feliz, com minhas novas amigas de infãncia, sambando, braços abertos para ajudar a cantar a canção. Deixa a vida me levar, vida leva eu!...

Acabada a música, um dos meus amigos de mesa, me olhou com os olhos arregalados e exclamou: "Miriane! Onde você esconde seu sangue mulato???? Não é possível sambar desse jeito e ser tão branca! Você tem que ter uma mulatice aí, em algum lugar!" Ah, a glória! Tem coisa melhor do que ser elogiada por algo que você adora fazer e ser comparada com esse mulherio lindo, que parece não tem nenhum osso no corpo, que flui, que passa leve pela vida (e que parece nunca ter celulite!!! Meus sais, por que só elas têm essa vantagem, por que????).

O problema é quando a música é pra ser dançada a dois. Daí, sou péssima! Tenho mania de conduzir. Não consigo me entregar e ir no embalo... eu fico achando que não é bem assim, que eu tenho um jeito melhor, que são 2 pra lá e 2 pra cá, que são 2 pra lá e 1 pra cá agora (quem foi que falou diferente?). Tenho extrema dificuldade de confiar que tudo vai dar certo, no final, e sair rodopiando nos braços de alguém. Ou de simplesmente curtir o momento, mesmo que não seja a dança mais perfeita do mundo. Eu fico admirando aqueles casais incríveis, que dominam juntos o salão ou o espacinho de meio metro quadrado, entre uma mesa e outra do bar. E penso comigo mesma: preciso levar o marido pra fazer dança de salão, urgente.

Só que a culpa não é dele: é minha. Não tem como nós sermos um casal dançarino se eu não fizer, também, a minha parte. E a minha parte, em tese, é a mais fácil, inclusive: eu tenho que me entregar, me deixar levar, planar, deixar que ele me conduza. É só sentir a música, a mão na minha cintura e me deixar levar. Mas é tão difícil se expor assim... Por que é que a gente quer ter o controle de tudo, às vezes? Por que essa teimosia em não ser vulnerável, nunca? Por que não podemos relaxar, pelo menos, de vez em quando? Nem todas as danças tem que ser, assim, perfeitas, com passes certos e malabarismos precisos. A grande graça está em, justamente, aprender juntos e aproveitar aquele momento de 3, 4 ou 5 minutos, juntos.

E isso não vale só pra dança. Vale pra vida, também. De vez em quando, é preciso se deixar conduzir, sentar na janelinha e só apreciar a paisagem!

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Todo o Resto (Martha Medeiros)

“Existe o certo, o errado e todo o resto.” Esta é uma frase dita pelo ator Daniel Oliveira representando Cazuza, em conversa com o pai, numa cena que, a meu ver, resume o espírito do filme que esteve em cartaz até pouco tempo. Aliás, resume a vida.

Certo e errado são convenções que se confirmam com meia dúzia de atitudes. Certo é ser gentil, respeitar os mais velhos, seguir uma dieta balanceada, dormir oito horas por dia, lembrar dos aniversários, trabalhar, estudar, casar e ter filhos, certo é morrer bem velho e com o dever cumprido. Errado é dar calote, repetir o ano, beber demais, fumar, se drogar, não programar um futuro decente, dar saltos sem rede. Todo mundo de acordo?

Todo mundo teoricamente de acordo, porém a vida não é feita de teorias. E o resto? E tudo aquilo que a gente mal consegue verbalizar, de tão intenso? Desejos, impulsos, fantasias, emoções. Ora, meia dúzia de normas preestabelecidas não dão conta do recado. Impossível enquadrar o que lateja, o que arde, o que grita dentro de nós.

Somos maduros e ao mesmo tempo infantis, por trás do nosso autocontrole há um desespero infernal. Possuímos uma criatividade insuspeita: inventamos músicas, amores e problemas, e somos curiosos, queremos espiar pelo buraco da fechadura do mundo para descobrir o que não nos contaram. Todo o resto.

O amor é certo, o ódio é errado, e o resto é uma montanha de outros sentimentos, uma solidão gigantesca, muita confusão, desassossego, saudades cortantes, necessidade de afeto e urgências sexuais que não se adaptam às regras do bom comportamento. Há bilhetes guardados no fundo das gavetas que contariam outra versão da nossa história, caso viessem a público.

Todo o resto é o que nos assombra: as escolhas não feitas, os beijos não dados, as decisões não tomadas, os mandamentos que não obedecemos, ou que obedecemos bem demais – a troco de que fomos tão bonzinhos?

Há o certo, o errado e aquilo que nos dá medo, que nos atrai, que nos sufoca, que nos entropece. O certo é ser bonito, rico e educado, o errado é ser feio, pobre e analfabeto, e o resto nada tem a ver com esses reducionismos: é nossa fome por ideias novas, é nosso rosto que se transforma com o tempo, são nossas cicatrizes de estimação, nossos erros e desilusões.

Todo o resto é muito mais vasto. É nossa porra-louquice, nossa ausência de certezas, nossos silêncios inquisidores, a pureza e a inocência que se mantêm vivas dentro de nós mas que ninguém percebe, só porque crescemos. A maturidade é um álibi frágil. Seguimos com uma alma de criança que finge saber direitinho tudo o que deve ser feito, mas que no fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo. Todo o resto é tudo que ninguém aplaude e ninguém vaia, porque ninguém vê.”

(Martha Medeiros – “Coisas da Vida – Crônicas”).

Mais um daqueles textos que eu me pego pensando que eu gostaria de ter escrito!...
E eu acabei de me dar de presente mais 2 livros dessa moça... acho que vou me sentir assim, mais algumas outras tantas vezes!

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Projeto 10 em 10 - setembro / 2014

Chegou mais um dia 10. Plena quarta-feira. Mas não importa... o Projeto 10 em 10 acontece do mesmo jeito, em qualquer dia da semana. Porque a ideia é justamente essa: que você veja o seu dia "normal" de uma forma especial!



Bjos e bênçãos.
Mirys

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Auto conhecimento

Todo mundo tem suas válvulas de escape. E cada um sabe qual é a sua. Ligar para um amigo, tomar um porre, sair pra dançar, ficar quietinho no quarto, fingir que não é com você; qualquer uma dessas atitudes podem ser consideradas válvulas de escape. Ou qualquer outra que te faça sair da sua realidade, um minutinho, e viver outra. Algo que te dê a pausa necessária para pensar, antes de tomar as próximas decisões.

Difícil é admitir que você está usando uma válvula de escape, em algum momento do tipo encruzilhada da vida. Ninguém gosta de perguntas, nessas horas.
"Não, eu não tenho nada, só quero descansar um pouquinho no quarto porque tive um dia cheio."
Mas você não dorme, não descansa, não nada. Só fica lá, no seu momento de stand by, respirando fundo e pensando nas hipóteses.
"Se eu fizer isso, vai acontecer aquilo... Se eu tentar tal coisa, posso conseguir tal outra coisa..."

Pois é: eu descobri que uma das minhas válvulas de escape é aumentar o volume da música que eu ouço. Nada demais... algo sutil... nenhuma mudança grandiosa pro resto do mundo ficar perguntando: "o que é que você tem?". Ou algo perfeitamente explicável com um simples "eu curto essa música".
Mas é fato que quando eu não quero ouvir o que a minha própria cabeça está pensando, eu aumento o som.
E sigo cantando.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Cesta Básica

Dia desses, o filho mais velho chega com a tarefa da escola e anuncia:
“- Mãe, hoje a tarefa é uma pesquisa, mas eu nem vou precisar do computador! Certeza que você sabe!”

Eu já virei pavão, abri o rabo, me achei. Só mesmo um filho pra fazer uma mulher se sentir assim: grande e poderosa, mesmo que esteja com o cabelo preso pra cima, fazendo o jantar! Ah, a glória!!!

“- Fala filhote, pesquisa de que?”
“- De cesta básica, mãe. Você vai saber. Você vai toda hora no mercado.”

Verdade, eu vou muito ao mercado. Uma das manias que trouxe comigo do ano vivido em Paris: escolher o que quer comer hoje e comprar fresquinho. Claro que não faço isso todo dia, até porque no Brasil a gente não tem todo esse tempo (na França, as mulheres saem do trabalho às 16:30hs, para poderem pegar os filhos na escola e ir para casa. Aí dá, né, meu povo!). Mas devo dizer que sou perita em pilotar carrinhos de mercado com poucas coisas, umas duas vezes por semana. Ou três. Enfim...

“- Manda aí, filhote! O que que você precisa saber?”, perguntava eu, de cima do meu salto de conhecimento mercadístico.

“- Mãe, aqui tem uma lista de produtos que eu preciso saber os preços, para comparar com outra lista que tá completa, de 2010. Quanto custa, por exemplo, 1k de feijão carioquinha?”

Eu olhei para aquele menino de 10 anos e pensei “como vou falar que eu não sei? Simplesmente não sei!”

“- Filho, a mamãe não come feijão, lembra?...”
“- Tá bom, mãe. Quanto custa 1k de arroz?”
“- Amor, a mamãe come carne, verduras e saladas, lembra?... E vocês comem arroz e feijão no almoço da escola...”
“- Então, você NUNCA compra arroz ou feijão???”

Fiquei com vontade de responder “filho, a sua mãe não é nenhum ET. Ela, simplesmente, gosta tanto de saladas e verduras, que não liga pra outras coisas”. Mas, resolvi mudar o assunto. O próximo item da lista eu deveria saber!

“- Tá bom, mãe. E farinha de trigo, quanto custa?”

Putz! Não sou prendada. Não faço bolos, pães e guloseimas em casa. Fato.

“- Não sei...”
“- Ok. E o açúcar, quanto custa?”
“- Filho, mas a gente não come açúcar em casa! O pacote que tá aí tem, sei lá, uns 3 meses. Ou mais! Vocês já têm açúcar o suficiente em frutas, nas bolachas da escola, nos chocolates que eu compro...”

Viram? Não sou uma ET! Eu compro chocolates pros meus filhos! Tipo Kinder, com leite dentro, mas compro!!!

“- Tá bom, mãe... e o café em pó, você sabe quanto custa?”
“- A filho, você está de palhaçada! Eu tomo chá. Xícaras imensas, litros, baldes por dia. Não é possível que nessa cesta básica só tenha coisas que eu não compre! Não tem alface, tomate, rúcula, brócolis, ovo, queijo, pão, salame, macarrão, milho, nada nessa lista?????”
“- É mãe... acho que você não é básica.”

Pois é, também acho que não. E acho mais: dentro da cesta básica de toda família deveria ter pizza! Pelo menos uma por mês! E tenho dito!

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