sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Na dança, deixe-se conduzir. Na vida, também!

Não adianta, é mais forte do que eu: começa um ritminho, um tic-tic-tic-tic, um ziriguidum de samba, meus pés já começam a se mexer! Pode ser lento tipo sambinha gostoso de boteco, pode ser a maior loucura de escola de samba: começou a música, meu corpo vai. Quando percebo, já estou dançando. Em lugares onde é permitido dançar e em lugares nada comuns, também (tipo debaixo do chuveiro, no meio da sala sozinha ou sentada na cadeira do escritório). No mínimo, no mínimo, o batuque da mão já começa a ser sentido.

Uma vez, num noite há uns anos atrás, eu estava numa mesa cheia de amigos (que não dançavam), beliscando qualquer coisa e conversando animadamente, quando a banda começa a tocar um samba. A mesa do meu lado levantou-se, na mesma hora, e começou a sambar. Só mulheres! Elas dançavam, sorriam, cantavam junto; outras pessoas também começaram a entrar no clima; e eu lá, doente de vontade de embalar, também. Até que uma das garotas olhou pra mim (ela deve ter visto meus pés sambando sozinhos, debaixo da minha mesa, só pode!) e disse: vem dançar com a gente! Fui. Sem pensar 1/2 segundo. Lá estava eu, toda feliz, com minhas novas amigas de infãncia, sambando, braços abertos para ajudar a cantar a canção. Deixa a vida me levar, vida leva eu!...

Acabada a música, um dos meus amigos de mesa, me olhou com os olhos arregalados e exclamou: "Miriane! Onde você esconde seu sangue mulato???? Não é possível sambar desse jeito e ser tão branca! Você tem que ter uma mulatice aí, em algum lugar!" Ah, a glória! Tem coisa melhor do que ser elogiada por algo que você adora fazer e ser comparada com esse mulherio lindo, que parece não tem nenhum osso no corpo, que flui, que passa leve pela vida (e que parece nunca ter celulite!!! Meus sais, por que só elas têm essa vantagem, por que????).

O problema é quando a música é pra ser dançada a dois. Daí, sou péssima! Tenho mania de conduzir. Não consigo me entregar e ir no embalo... eu fico achando que não é bem assim, que eu tenho um jeito melhor, que são 2 pra lá e 2 pra cá, que são 2 pra lá e 1 pra cá agora (quem foi que falou diferente?). Tenho extrema dificuldade de confiar que tudo vai dar certo, no final, e sair rodopiando nos braços de alguém. Ou de simplesmente curtir o momento, mesmo que não seja a dança mais perfeita do mundo. Eu fico admirando aqueles casais incríveis, que dominam juntos o salão ou o espacinho de meio metro quadrado, entre uma mesa e outra do bar. E penso comigo mesma: preciso levar o marido pra fazer dança de salão, urgente.

Só que a culpa não é dele: é minha. Não tem como nós sermos um casal dançarino se eu não fizer, também, a minha parte. E a minha parte, em tese, é a mais fácil, inclusive: eu tenho que me entregar, me deixar levar, planar, deixar que ele me conduza. É só sentir a música, a mão na minha cintura e me deixar levar. Mas é tão difícil se expor assim... Por que é que a gente quer ter o controle de tudo, às vezes? Por que essa teimosia em não ser vulnerável, nunca? Por que não podemos relaxar, pelo menos, de vez em quando? Nem todas as danças tem que ser, assim, perfeitas, com passes certos e malabarismos precisos. A grande graça está em, justamente, aprender juntos e aproveitar aquele momento de 3, 4 ou 5 minutos, juntos.

E isso não vale só pra dança. Vale pra vida, também. De vez em quando, é preciso se deixar conduzir, sentar na janelinha e só apreciar a paisagem!

3 comentários:

  1. Linda reflexão, vale mesmo pra vida! bjs, ótimo fds! chica

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  2. Nós, as loucas por controle, autoritárias, somos assim mesmo.Vai fazer o que?

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  3. Mirys! Saudades de visitar você!

    Então lição de vida que eu estou aprendendo! As vezes quero controlar tudo, inclusive não aprendi a dançar de 2 por que eu quero conduzir! Mas com fé em Deus irei aprender a relaxar e só curtir!

    Bjos

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